terça-feira, 3 de abril de 2018

O estado do casamento em Portugal

 
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A propósito de um trabalho de grupo, do qual a Letícia fez parte, descobrimos, ela primeiro e depois eu, que em Portugal por cada 100 casamentos há 70 divórcios, e que graças a esses números somos lideres na Europa. Inicialmente não acreditei na minha filha, tive que ver com os meus olhos. E a mesma informação que o grupo tinha encontrado, li-a eu. Sabia que era uma taxa alta, mas assim?! 

Os que se casam agora são fruto da abundância e facilidade, por isso resiliência e adversidade são palavras que desconhecem e que muito menos praticam. O valor da felicidade está no topo das suas prioridades, o que  não sendo errado almejar, é igualmente enganador como referência absoluta, porque, como nós os mais velhos sabemos, a felicidade não é constante, e frequentemente, para lhe sentirmos o sabor, temos que atravessar desertos e tempestades. Porém, eles querem-na fácil, como a comida congelada que é só meter no micro-ondas. Querem-na sempre presente, como um MacDonalds em cada  esquina. Por isso, quando a endorfina começa a revelar um caminho descendente, o alarme soa alto e a solução é fácil. 

O casamento já não é o acto de assumir um compromisso perante o outro,  parentes e amigos; é a festa que produz fotografias para o Instagram e F.B., o motivo para andar alegre durante meses a escolher a Quinta para o copo de água, vestido e fato, ementa, decoração e lembranças para os convidados, sempre do mais exclusivo possível, embora igual a tudo o que se vê nas redes sociais. Não espanta pois que passada a adrenalina do acontecimento, a admiração pela aliança que brilha na dedo, a vida quotidiana se revele corriqueira, sem o glamour dos eventos que a precederam, e aborreça. E fosse apenas isso, mas não, acrescem os problemas que o convívio faz, o desgaste dos relacionamentos,  e a desilusão pelo outro que o tempo se encarrega de desvendar. E ninguém nasceu para isto! Não dá, não dá. Há que começar de novo. 

O psiquiatra e escritor espanhol Enrique Rojas diz que "o grande erro do séc.XX foi acharmos que o amor é só um sentimento, que vai e vem. Na realidade, é um acto de vontade e inteligência." Aparentemente, no Sec. XXI o erro mantém-se e consolida-se, bem aplicado por personalidades sem o estofo das gerações que os precederam, e uma sociedade que banaliza o descartável.