sexta-feira, 5 de agosto de 2016

A bebé da esplanada

O casal jovem chegou à esplanada com a filha, muito fofinha, ao colo. Colocaram-na na cadeira alta, que a funcionária lhes trouxe, fizeram o pedido, e pegaram cada um no seu telemóvel. A menina, aparentado um ano de idade, sem choro nem protestos de qualquer espécie dedicou-se a observar o que a rodeava: as outras pessoas, os carros que passavam, os pais, com os seus telemóveis, como se fosse um filme mudo.  
A empregada de mesa voltou com o pedido, que ia distribuindo enquanto sorria à bebé; por fim, disse-lhe qualquer coisa. Os pais pousaram os telemóveis sem pressa e começaram a tomar o pequeno-almoço, monossilábicos. A bebé é que nunca mais largou a empregada de vista, retorcia-se na cadeira, para a acompanhar pelas suas andanças entre mesas. Esperando, certamente, um outro sorriso e quiçá, outra palavra.

Sabemos já que uma determinada geração se queixa por ter sido relegada para segundo, devido ao trabalho dos pais. Não sabemos ainda as queixas desta geração, que acumula contra si, trabalho e redes sociais. Mas podemos antever desde agora que a dose de recriminação vai sofrer um upgrade; não se trata de "necessidades do trabalho", trata-se de indiferença escolhida.