quarta-feira, 8 de julho de 2015

Amar não é prémio

Uma coisa que sempre tive muito clara na educação dos meus filhos foi distinguir entre comportamentos e emoções. Quando os repreendia, por algum motivo, enfatizava habitualmente que estava descontente com a acção que tinham praticado, mas que continuava a amá-los. Que o meu amor estava garantido, acima de acontecimentos que me desagradassem.

Não é justo nem correcto fazer entender aos filhos que os amamos apenas quando estamos contentes com eles; quando nos agradam, quando nos obedecem, quando se saem bem.
O amor deve ser isento, eterno e garantido. 

Como resultado desta amálgama entre sentimento e comportamento surge a dúvida do merecimento. Um filho merece sempre amor, aliás há um ditado sueco que exprime muito bem essa ideia: "Ama-me quando eu menos merecer, pois é quando mais preciso". 
O amor é o estofo de que é feito a confiança, e sem ele não há reviravolta, nem caminho ascendente. 

A saída dos resultados dos exames, e das notas de fim de ano lectivo, têm-me feito pensar sobre isto. As expectativas dos pais não correspondem frequentemente à realidade; não significando por isso que sejam expectativas justas. Há diversos motivos que poderão explicar e justificar descidas de notas, então de exames em tão tenras idades mais se poderá compreender ainda.

Por muito que nos orgulhemos dos nossos filhos, eles não são faixas de prémios que levemos ao peito. Não é para isso que eles existem. 

Invertamos agora as coisas e perguntemo-nos quantas vezes falhamos e desmerecemos o amor dos filhos. No entanto, eles amam-nos. Desde muito pequeninos que tanto se zangam como depressa vêm dar um abraço, e fazer as pazes. Isto só deixa de acontecer porque lhes ensinamos, com o nosso exemplo, que não se faz. Que estando zangados não abraçamos, nem beijamos. Que não fazemos as pazes logo a correr; que a zanga precisa de tempo para ser remoída. 
Ensinamos o mal a quem intuitivamente faz o bem.

Amar não deveria ser prémio, deveria antes ser uma constante acima das variáveis da vida.